Uma reflexão sobre o comportamento das aves nos dias mais frios e sugere que nós também sejamos mais resilientes.
Leia abaixo a crônica de Ciro Porto* | “Terra da Gente”
E mais uma vez chega o Inverno. Para quem mora abaixo da linha do Equador, desde 20 de março, o primeiro dia do Outono, quando dia e noite tiveram a mesma duração, os dias foram pouco a pouco ficando mais curtos do que as noites. Até 20 de junho, quando tivemos a noite mais longa do ano, o solstício de Inverno.
E é justamente a partir da chegada dessa estação que o dia começa a espichar para, no primeiro dia da Primavera, novamente ter a mesma duração da noite. E então as noites vão encurtando até o Verão chegar.
Inverno, no mundo das aves brasileiras, não significa apenas frio, mas também seca e falta de alimentos. É um tempo de dificuldades. Há exceções: as aves aquáticas, por exemplo, têm mais facilidade para encontrar os peixes.
Mas para a maioria das aves é mesmo um período de provação. As aves, assim como os mamíferos – entre os quais nos incluímos – são animais endotérmicos (de sangue ‘quente’), ou seja, têm a capacidade de manter a temperatura do corpo sem depender da temperatura do ambiente externo. Porém, essa capacidade é limitada.

Imagine: nós, no Inverno, nos agasalhamos mais e comemos mais, justamente para preservar o calor de nosso corpo e termos energia para mantê-lo na temperatura ideal.
Já as aves, o máximo que conseguem fazer é eriçar as penas na tentativa de evitar a perda de calor do corpo. É comum, ainda, encontrar aves pousadas bem juntas, como se quisessem aquecer umas às outras. Ou então sozinhas, ao sol, com cauda e asas abertas.

Quando você estiver observando aves nessa época, com certeza irá encontrar, principalmente pela manhã, várias aves ‘arrepiadas’ nos mais diversos poleiros. Talvez você já tenha ouvido o termo ‘encorujado’, como sinônimo de quieto.
Quando encontramos corujas durante o dia, elas costumam estar mesmo quietas, poupando energia para caçar à noite. Agora no Inverno, ao observar a passarada, temos a impressão de ver quase todas as aves ‘encorujadas’. E estão mesmo!

Na verdade, apesar dos nossos agasalhos, com a gente não é tão diferente. O Inverno nos remete a ler, meditar, pensar na vida…
Quem costuma alimentar aves com ração ou frutas, sabe muito bem que nessa época aumenta o número de interessados em refeições oportunas, assim como os visitantes dos comedouros diminuem quando a natureza volta a oferecer alimento.
De fato, podemos afirmar: no mundo das aves, o Inverno é tempo de testar a resiliência, ou seja, a capacidade de suportar adversidades durante períodos difíceis para voltar ao normal, assim que possível.

Com as aves sempre podemos aprender. Em muitos períodos de nossas vidas, enfrentamos ‘Invernos’ diferentes. Muitas vezes, a perda de um ente querido tira a cor de nossas vidas. Em outras, como ao perder um emprego, conhecemos a desesperança.
Num mundo onde impera a má notícia, é comum notarmos que a nossa vida se torna seca, como a natureza num rigoroso Inverno. Mas, assim como no mundo das aves é no Inverno que o sol começa a encompridar os dias, anunciando a renovação da vida na Primavera, nós podemos também perceber uma nova vida que sempre se anuncia, seja qual for o ‘Inverno’ que atravessamos.
Por esta época, acabamos de comemorar as festas juninas – Santo Antônio, São João e São Pedro – tempo de fogueiras, simbolizando a luz, seja ela a do sol que volta a iluminar nosso hemisfério, ou luz interna de nossos corações, uma luz invisível, mas que nunca se apaga.

Ao passar pelo Inverno – seja ou não o da estação, seja exterior ou interior – faça como as aves que não migram: seja resiliente. Não negue a dificuldade, aceite-a, mas considere-a passageira. Acenda uma fogueira – seja como a da festa junina, para aquecer seu corpo, ou em seu coração, para queimar o que não serve, suas dores, suas mágoas – e assim ilumine sua vida.
Em nossos ‘Invernos’ sempre podemos aprender mais e a partir de nós mesmos. Caso se sinta sozinho, junte-se a outros, como fazem as aves. Se sentir muito frio, vire-se para o sol da manhã.
Seja lá como for, nunca se esqueça que o Inverno existe para anunciar a Primavera.
Ao passar pelo Inverno – seja ou não o da estação, seja exterior ou interior – faça como as aves que não migram: seja resiliente. Não negue a dificuldade, aceite-a, mas considere-a passageira. Acenda uma fogueira – seja como a da festa junina, para aquecer seu corpo, ou em seu coração, para queimar o que não serve, suas dores, suas mágoas – e assim ilumine sua vida.

Em nossos ‘Invernos’ sempre podemos aprender mais e a partir de nós mesmos. Caso se sinta sozinho, junte-se a outros, como fazem as aves. Se sentir muito frio, vire-se para o sol da manhã.
Seja lá como for, nunca se esqueça que o Inverno existe para anunciar a Primavera.
* Ciro Porto, é um escritor, jornalista e apresentador de televisão. Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), é diretor geral de Jornalismo da EPTV e apresentador do programa “Terra da Gente” EPTV/Campinas. | G1.